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Explorando o Pico da bandeira



É 5:30 da manhã do dia 02 de setembro em Belo Horizonte, o Sol ainda não nasceu, mas no céu, nota-se, um grosso cobertor de nuvens pálidas – Acordo desesperado - havíamos marcado de nos encontrarmos na Praça Raul Soares (área central de Belo Horizonte) às 6:00 horas para adentrar a van que alugamos e partir para o Alto Caparaó (onde se encontra o Pico da Bandeira) e dar início a aventura.
Temendo me atrasar, rapidamente chamo o taxi por meio do meu velho smartphone Samsung s3, que já estava quase parando de funcionar e sem bateria (descarregado). O taxista chegou rápido em minha residência - respirei aliviado – ainda havia uma chance de chegar a tempo para a saída da van. O motorista, atendendo ao meu pedido, foi o mais rápido possível (dentro do limite de velocidade claro), isso fez com que eu chegasse milagrosamente no último minuto do prazo estipulado para que o veículo de viagem partisse.
Chegando ao ponto de encontro revejo meus amigos e companheiros de curso (geografia), Thales, Rafael, Gustavo e Gleyber, para além, no interior do veículo, havia mais seis pessoas, que assim como nós, estavam dispostas a percorrer todos os 330 km para tentar escalar o Pico.
Vrummm - o motorista dá partida no motor da van – aí vamos nós! diz Rafael entusiasmado, logo todos reagem ao comentário exprimindo mensagens motivacionais. Em seguida, todos se apresentam e começam a conversar sobre o que esperam ver e sentir ao chegar no destino final.
Após percorrermos alguns quilômetros já estamos fora de BH, logo a paisagem começa a mudar, abandonamos o centro urbano, com seus prédios grandes e amedrontosos, suas ruas com fluxo incessante de carro e pessoas, e seu ar pesado e poluído com os mais variados agentes tóxicos que se concentram tanto sob a forma de gases, quanto na forma de material particulado em suspensão.
Ao percorrer a BR 262 somos surpreendidos quando um outro veículo identificado como sendo de um asilo cristão passa em alta velocidade pela nossa esquerda, todos começam a se perguntar de forma humorística se o micro-ônibus estava indo para o céu.
Com o passar do tempo e dos quilômetros, começamos a ver mudanças na vegetação, despedimos do Cerrado para darmos as boas-vindas a mata atlântica, com suas árvores majestosas e variadas, fonte de alta biodiversidade que até os dias atuais ainda resiste aos empreendimentos que tem por finalidade extirpá-las.
Logo em seguida passamos pelo Rio Doce, que infelizmente está condenado à morte devido ao crime de Mariana, em que uma barragem se rompeu despejando milhões de litros de lama em sua calha, decretando assim, a morte a muitos organismos que tinham no rio seu habitat, culminando também, na destruição do Distrito de Bento Rodrigues e dos meios de trabalho que garantia a sobrevivência de milhares de trabalhadores.
Já é 12:00 e ainda estamos na pista, está aproximadamente 32° C e mesmo sendo equipado com ar condicionado o calor dentro do veículo começa a incomodar. Conforme vamos ultrapassando as fronteiras das cidades, percebemos a alteração da paisagem novamente. Da janela empoeirada da Van, vemos a mata atlântica sumir diante de nossos olhos, em seu lugar surgem áreas de pasto destinadas ao gado, em quase todas, pode-se observar a ação do processo erosivo, como aponta Thales euforicamente dizendo por diversas vezes: olha lá a voçoroca! enquanto os demais aventureiros além de mim dormiam para armazenar energias para a empreitada que viria logo mais.
A seguir, as áreas de pastagem passam a se intercalarem com as áreas de cultivo de café, que nessa região (Zona da Mata Mineira) se apresenta como um dos cargos chefe na geração de empregos e renda para os seus habitantes. O solo e o relevo também mudam, observa-se imensos pacotes de latossolo vermelho-amarelo por todos os lados e a aparecem colinas onduladas, que provavelmente eram compostas por Granito-gnaisse devido ao seu formato convexo característico.
Por volta das 13:20 chegamos a cidade de Alto Caparaó, estacionamos ao lado da Igreja Matriz Imaculada Conceição que se localiza em uma praça na avenida principal da cidade, que não por mera coincidência também se chama Pico da Bandeira. Cansados da viagem e morrendo de fome, procuramos logo um local para almoçar. Gleyber e eu (Gabriel), havíamos trazido alguns pacotes de biscoitos recheados e, portanto, decidimos fazer uma breve exploração da cidade enquanto comíamos aqueles malditos saborosos biscoitos.
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Após a pausa para o lanche decidimos pegar a van e seguir para o Parque Nacional do Caparaó, chegando lá, montamos o acampamento, organizando as barracas e os utensílios que seriam utilizados mais tarde. Ao término desta tarefa, fomos para a Cachoeira das Andorinhas (não vi nenhuma andorinha por lá) no Vale Encantado, o lugar era até legalzinho, mas o foco continuara sendo o Pico da bandeira, por isso, não poderíamos nos distrairmos muito com as outras belezas cênicas que o local abriga.
Fiquei puto! Durante todo o percurso até aqui havia registrado inúmeras fotografias, mas o cartão de memória havia queimado e perdi tudo, sendo necessário solicitar ao meu amigo Thales que me emprestasse o seu único cartão de memória que havia acabado de comprar para utilizar no seu celular J7.
Às 18:10 a estrela mãe - o Sol - se despedia de nós, a noite chegara, e com ela o frio, que lhe surpreenderia se pudesse estar lá conosco. É neste momento que descobrimos que não temos blusas de frio adequadas, começamos a sentir dormência nos dedos dos pés e das mãos, o nariz perde a sensibilidade e tudo oque você passa a desejar é um lugar quentinho, mas alí, pelo menos durante boa parte do inverno não será possível achar este lugar.
Às 19:30 na área de camping, começamos a elaborar a nossa refeição, não era nada de mais, apenas macarrão instantâneo com sardinha, bacon, mortadela e requeijão. Como lá é proibido fazer fogueiras, optamos pela utilização de fogareiros, foi muito tranquilo nessa parte. Após comer, decidimos descansar até que chegasse a hora de subir para o ataque ao cume. Mas foi praticamente impossível descansar, porque havia uma família maldita pagando promessa, que estava fazendo o maior barulho e acordando todos na área de camping, demos a ela o apelido de “família farofeira”.
Como estava impossível descansar sai da minha confortável barraca amarela para dar uma volta, foi aí que conheci um cara muito louco, ele mora em Belo Horizonte (Coincidentemente minha cidade) e estava subindo o Pico descalço, sim, isso mesmo que você leu...DESCALÇO! durante o dialogo ele (que não cheguei a perguntar o nome) me contou que acabara de voltar de viagem das terras gélidas da Patagônia, e que reservou como ponto final da sua audaciosa expedição a subida ao Pico da Bandeira, mas não planejou direito e acabou esquecendo de levar calçados próprios para o montanhismo.
Naquele momento eu estava usando minha farda camuflada de instrutor do curso de sobrevivência em ambientes naturais hostis, no qual cheguei a dar consultorias, principalmente no tocante a orientação por meio de referências elementares (sol, estrelas, vegetação, cursos d’água) e técnicas básicas. Logo passei a ser conhecido no acampamento como o “doidão” da sobrevivência.
Também, acredite se quiser, participamos da gravação de um videoclipe sobre o Pico da Bandeira, ajudei no roteiro, na direção, iluminação e até na cenografia e no becking vocal. O bom de acampar com muitas pessoas é que geralmente todos estão mais propensos a ajudar aos demais, neste caso não foi diferente, surgiu a ideia de gravar e logo todos foram contribuindo com as suas habilidades para a concretização da ideia. Tentei posteriormente encontrar o clipe no youtube mas não o achei.
Aos poucos fomos observando que todos já haviam partido para tentar o cume, mas aguardamos um pouco mais para sairmos no horário que havíamos planejado anteriormente. Logo chegara a hora de atacar o cume, e eu e meus amigos já não aguentávamos mais de tanta ansiedade. Partimos exatamente as 23:40 e logo alcançamos as pessoas sedentárias que haviam partido anteriormente, como consequência, sofremos com a superlotação das trilhas, era quase impossível ultrapassar o réquiem (marcha lenta das pessoas) que se apossara da trilha, aos poucos fomos ultrapassando os grupos de turistas menos preparados.
Lá pelas 1:00, quase chegando ao Terreirão, nos deparamos com fezes humanas em meio a trilha, era proveniente de um dos integrantes da “Família Farofeira”, o indivíduo comeu tanto que não aguento segurar as pregas. Como já se sabe, não é indicado comer uma quantidade grande de comida antes ou durante a realização de uma trilha como essa. Imagino o frio nas partes baixas que essa pessoa enfrentou durante o processo de defecação, poderia ser evitado com bom senso. Além disso, nem ao menos tiveram a hombridade de limpar a trilha após o ocorrido, simplesmente deixaram lá para que alguns desavisados pisassem ou até mesmo caíssem nelas.
Conforme subíamos o frio aumentava (naquele momento os termômetros marcavam -7°C), a chegada até o Terreirão se mostrou árdua, o suor acumulado pela subida rápida fez com que a sensação térmica (frio) fosse pior, roupas molhadas congelam mais, alimentando o processo hipotérmico. A falta de sensibilidade no nariz chegava até ser preocupante. Apesar de termos saído por último, fomos os primeiros a chegar no terreirão naquele dia, a lua esbanjava sua beleza, e como uma seta nos guiava até o cume.

Após descansarmos por 20 minutos, continuamos com o ataque ao cume. Essa parte é certamente a mais difícil de todas, pois há muitas trilhas paralelas, abertas pelos burros (que carregavam as bagagens dos pseudos aventureiros), para além, a falta de sinalizações adequadas também mostrou-se um desafio a mais para a chegada até o destino pretendido.
Apesar de todos os percalços descritos acima, nós conseguimos chegar, inicialmente apenas eu e o Cleisson (o guia que nunca havia ido até o local) às 03:35, na sequencia os demais. Houve um fato engraçado, meus amigos: Gleyber, Thales, Rafael e sua Namorada pegaram um acesso errado e acabaram seguindo a trilha que os levaria até o Espirito Santo.kkkk sim, isso realmente aconteceu, a sorte deles é que encontraram com um guia de outro grupo que os levou em segurança até o cume, chegando lá as 04:30, quase na hora do Sol aparecer e dar seu lindo espetáculo matinal!
O Por e nascer do Sol naquele local é simplesmente mágico, nunca vi algo tão belo na minha vida. A beleza cênica dos raios vermelhos sobressaindo-se sobre as nuvens de algodão dançantes em meio e devido as ondulações do relevo é verdadeiramente algo incrível!

Na sequência fizemos o caminho de volta, mas fica para uma outra oportunidade a história...                                              

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